Campeões olímpicos condenam ocaso e “desperdício” no Engenhão
No Rio de Janeiro
A busca pela sede olímpica fez com que o Rio de Janeiro reativasse o Engenhão para eventos de atletismo nesse domingo após 21 meses. Porém a postura adotada pelas autoridades neste período em que o estádio foi usado apenas pelo futebol não foi esquecido e mereceu duras críticas dos maiores alvos da campanha que visa convencer o mundo e trazer os Jogos Olímpicos de 2016 para o país: os atletas internacionais de ponta.
VIANA CRITICA ESTRUTURA DO PAÍS |
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O velocista Sandro Viana está prestes a reviver um drama em sua carreira. Em 29 de maio, o estádio do Ibirapuera terá a pista de atletismo fechada para reformas, que estão previstas para durar no mínimo três meses, e obrigará mais de 120 atletas a mudarem seu local de trabalho.
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Dos quatro atuais campeões olímpicos que participaram do GP Rio de Atletismo, apenas a brasileira Maurren Higa Maggi evitou críticas contundentes ao abandono de eventos de atletismo no Engenhão. O local, que custou mais de R$ 380 milhões, não era utilizado pela modalidade desde os Jogos Pan-Americanos, em agosto de 2007, apesar de ser também o local das provas de atletismo nas Olimpíadas de 2016, caso a candidatura carioca vença.
Na passagem pelo Rio de Janeiro, o português Nelson Évora, campeão olímpico do salto triplo, elogiou o estádio do Engenhão, mas não disfarçou a surpresa ao saber que o local não foi utilizado nos últimos 21 meses para competições de atletismo. “Acho que deveria ser mais usado. É uma pista diferente, muito boa para os atletas e acho ruim que tenha ficado assim (sem usar)”, comentou. “Todas as coisas boas têm de ser usadas. Não pode desperdiçar”, completou.
Atual campeã mundial e olímpica do arremesso de peso, a neozelandesa Valerie Vili foi outra que se impressionou com o estádio, mas lamentou sua pouca utilização. “Disputei competições em vários países e este estádio é muito bom. É uma pena saber que não vem sendo aproveitado”, disse a atleta, que venceu sua prova neste domingo e ainda competirá nos GPs de Uberlândia e Belém na próxima semana.
ÉVORA AVALIA ESTREIA NO ANO |
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MAURREN ATACA DE CANTORA |
MURER RESPONSABILIZA VARAS |
Já o esloveno Primoz Kozmus, vencedor do lançamento de martelo em Pequim, nem teve a chance de competir no Engenhão, pois sua prova foi realizada no estádio Célio de Barros, no Maracanã. Ele lamentou as condições do local e a pouca presença do público, já que cerca de 15 pessoas acompanharam o evento no último sábado.
“É uma pena que isso aconteça. Competi para poucos”, disse o esloveno, que também adotou postura semelhante aos outros campeões olímpicos em relação ao Engenhão. “Não fui ao outro estádio (Engenhão), mas falaram bem dele. Creio que não é bom ficar tanto tempo sem usá-lo”, explicou ao ser informado da falta de eventos.
Acostumada a disputar grandes eventos, a norte-americana Grace Upshaw destacou que o Engenhão tem condição de receber uma Olimpíada, mas que não pode ficar tão tempo inativo para a modalidade. “É um estádio com boa pista, o clima no Brasil é perfeito, é um lindo lugar. A pista precisa ser usada pelos brasileiros”, avaliou a atleta, que foi à final do salto em distância nas Olimpíadas de Pequim.
Vencedora da prova disputada por Grace Upshaw na China, Maurren Maggi foi mais política e evitou críticas. “É bom estar de volta. Demorou um pouco, mas também a pista continua boa”, definiu a brasileira, que foi a atleta mais procurada pelo público durante o final de semana.
A direção do Botafogo, que administrará o local pelos próximos 19 anos, reconheceu que a ausência de eventos comprometeu a pista e prometeu que o Engenhão será mais usado pela modalidade. “Quando assumi no começo do ano, algumas coisas não estavam tão boas e precisamos de quatro meses para recolocar em ordem. Vamos trabalhar agora para trazer projetos para cá e incentivar o uso do Engenhão pela comunidade que mora no entorno do estádio”, disse o presidente Maurício Assumpção.
Segundo o dirigente, há uma proposta de fazer um projeto em conjunto com o Ministério do Esporte. O diretor de esportes olímpicos do Botafogo, Miguel Ângelo da Luz, terá uma reunião nesta quarta-feira em Brasília para acertar os detalhes finais. “Estou otimista e será importante para todos”, comentou Luz.
A mesma promessa foi utilizada pelo COB para explicar o “legado” do Pan, antes do início da competição em 2007. Para Assumpção, tal falha não se repetirá em sua gestão, já que também não acredita ser verídico o argumento que eventos de atletismo como lançamento de dardo, de disco ou arremesso de peso prejudiquem o gramado.
“Os funcionários da Greenlife (empresa responsável pela grama) vão fazer o trabalho e nestas seis horas que separam o atletismo do jogo (Botafogo e Corinthians jogaram no estádio às 18h30) tudo será resolvido. Isso não é desculpa”, adiantou, horas antes de a partida de futebol começar.
Rumo à Europa
Bolsa Atleta sob análise legislativa
fonte Blog do Cruz: http://www.dzai.com.br/espo/blog/blogdocruz?tv_pos_id=36656
Longe das denúncias de falcatruas que dominam a pauta do poder Legislativo, um grupo de funcionários desenvolve um excelente trabalho no Senado Federal, merecendo registro. É da Consultoria Legislativa, por exemplo, uma das mais recentes pesquisas da coleção “Textos para discussão”, abordando a Bolsa-Atleta, gerenciada pelo Ministério do Esporte.
A pesquisa — coisa rara em esporte de rendimento — é do jornalista Alexandre Sidnei Guimarães, que teve persistência nesse trabalho. Persistência porque, lá pelas tantas, o autor desabafa, reforçando a intenção de seu estudo, que é o de aprimorar esse benefício do governo:
“Apesar de solicitada a confirmação de dados duvidosos ou pedido o envio de informações adicionais, contatando o correio eletrônico ou por telefone indicados na página do Programa Bolsa Atleta, do Ministério do Esporte, nunca se obteve respostas claras, mas tão-somente questionamentos do porquê dos pedidos”.
Ou seja, o Ministério do Esporte se esquece que — como diz o autor — “os gatos públicos devem ser transparentes e ter ampla publicidade”. Ao contrário, age individualista e soberano, alheio às obrigações do Executivo num regime democrático.
Algumas conclusões da pesquisa indicam que faltam informações importantíssimas, como os critérios utilizados para a distribuição das bolsas por categorias (estudantil, nacional, internacional e olímpica) ou por modalidades a cada ano. O mais grave, porém, é o Ministério do Esporte não acompanhar o rendimento dos beneficiados. Afinal, a Bolsa Atleta (Lei nº 10.891/2004), está alcançando os seus objetivos ou o dinheiro investido não contribui para a formação do atleta?
Essa é a questão: não basta o governo abrir os cofres e se orgulhar de manter um projeto como esse, se não tiver acompanhamento sistemático para saber se, de fato, há o que festejar. Em números, os benefícios a competidores olímpicos, não-olímpicos e paraolímpicos, são os seguintes:
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ANO BENEFICIADOS VARIAÇÃO (%)
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2005 975 —
2006 854 -12,41
2007 2.171 154,22
2008 3.313 52,60
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Detalhando essas informações, o autor concluiu que dentre as categorias da bolsa, a Estudantil foi a única que não evoluiu em 2008, beneficiando apenas 167 atletas, contra 286 no ano anterior.
Conforme a pesquisa, o atletismo foi a modalidade que teve o maior número de contemplados, entre 2005 e 2008: 418 competidores olímpicos e paraolímpicos. Será que desse potencial formaremos uma equipe altamente competitiva até 2012, isto é, dois ciclos olímpicos depois de liberada a primeira bolsa?
Sabe-se que não há um trabalho integrado do Ministério do Esporte com as confederações ou governos estaduais, para evitar duplicidades de beneficiados em projetos comuns. Constata-se, também, a falta de prioridades para a aplicação da verba do Bolsa Atleta. Por exemplo, por que piloto de automobilismo, lutador de caratê kyokushinkaikan (é isso mesmo!) ou caratê kyokushin e até pescadores são beneficiados com verba tão difícil de conseguir, diante da carência de recursos públicos? E o rúgbi, de prática inexpressiva no país, com 140 bolsistas, enquanto o basquete contempla apenas 22 jogadores?
Concentração
Entre outras conclusões da pesquisa, ficou claro que um terço das unidades da Federação (9,3 estados) concentram 87% dos benefício s da Bolsa Atleta. E, estendendo-se a 13 (menos da metade dos estados nacionais) as unidades atendidas (menos da metade), a centralização bate em 94%.
Ao final, Alexandre Sidnei Guimarães conclui que, “apesar do aumento de mais de 200% dos investimentos, entre 2005 e 2008 — de R$ 13,1 milhões para R$ 40,2 milhões — , não há política precisa de distribuição pelas diversas categorias da Bolsa Atleta”.
Enfim, o trabalho é sério e deve ser atualizado, espera-se, com o apoio do Ministério do Esporte. Principalmente porque não se trata de crítica gratuita ao Bolsa Atleta, mas de uma análise preliminar com sugestões para o aprimoramento do mesmo, como destaca o autor.
A pesquisa completa pode ser obtida no seguinte endereço: www.senado.gov.br/conleg/textos_discussao.htm