Fonte: Jornal da Tarde
ALESSANDRO LUCCHETTI, alessandro.lucchetti@grupoestado.com.br
Mais de nove meses depois da eclosão do episódio de doping coletivo na equipe Rede de Atletismo, de Bragança Paulista, o caso ainda produz consequências no esporte. Atletas de ponta permanecem sem clube, enquanto outros aceitaram propostas de agremiações menores.
No primeiro caso figura Vicente Lenílson de Lima, vice-campeão na prova de 4x100m dos Jogos Olímpicos de Sydney em 2000. Na última sexta-feira, o velocista potiguar estava disputando o esvaziado Troféu Estado de São Paulo, no decrépito Estádio Ícaro de Castro Mello, no Ibirapuera, enquanto a nata do atletismo brasileiro se preparava para o GP Brasil, que contou com um punhado de atletas estrangeiros de alto nível técnico.
Lenílson, que era treinado por Jayme Netto Júnior, técnico banido por causa do envolvimento com doping, correu inscrito pela Federação Paulista. “Alguns clubes, por justos motivos, preferem atletas mais novos. Outros ofereceram propostas muito baixas para um atleta do meu nível, que não pude aceitar”, afirma o corredor, de 32 anos.
Acostumado a um salário de R$ 11 mil mensais, Lenílson recebeu proposta de R$ 800 de um clube cujo nome não revela. “Quem sabe não melhoram esse número, né?”, brinca o velocista. “Estou defendendo a equipe do trio parada dura”, emenda, citando seus três patrocinadores.
Para complementar a renda, Lenílson faz palestras motivacionais em empresas e instituições ao lado de Claudinei Quirino. Os dois criaram a empresa “Olímpicos pela Vida” para isso. “Ensinamos a ser um campeão dentro e fora das pistas. Percorremos 20 unidades do Sesc para repassar o que aprendemos no atletismo para umas duas mil pessoas”.
No ano que vem Lenílson pretende entrar para a equipe brasileira do 4x100m, agora comandada por Katzuhico Nakaya.
Em situação semelhante está Keila Costa. O segundo maior nome do salto em distância do país não teve a mesma sorte da campeã olímpica Maurren Maggi, que foi contratada pelo São Paulo com apoio da Nestlé.
Nem mesmo os bons resultados, como a conquista da medalha de bronze no Mundial Indoor de Doha, no Qatar, mudaram a situação da saltadora.
Outros 12 atletas da Rede tiveram melhor sorte e foram contratados pelo Pinheiros.
Alguns ex-integrantes da Rede toparam se transferir para clubes que estão investindo para crescer, como a Associação Sãobernardense de Atletismo. Mudaram-se para o ABC a dardista Caroline de Oliveira, o velocista Francisco Irlândio da Silva e Thiago Mendes Castelo Branco, um dos melhores do Brasil nos 110 metros com barreiras.
Há um caso também de atleta que assinou com a maior equipe do país, a BM&F: o meio-fundista Eder Uillan da Silva.
Hoje, tudo que resta do projeto da Rede, que chegou a ter a segunda melhor equipe de atletismo do Brasil, é o projeto de novos talentos que reúne 42 atletas selecionados em todo o território nacional.